III Domingo da Páscoa. 22. 04. 2012
A minha primeira palavra é para vos dizer obrigado pela bela manifestação de alegria e de festa que está a ser esta Eucaristia de Domingo, na catedral dedicada a Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Sumbe. Saúdo, de forma particular, o Sr. D. Benedito Roberto, Bispo desta Diocese, que hoje me concede a honra de pregar a partir da sua própria cátedra. E a alegria deste momento é tanto maior quanto ele representa importante passo em frente na caminhada de cooperação entre as nossas duas Dioceses, iniciada há 4 anos. Desta vez será momento alto dessa caminhada a inauguração da casa e da escola da comunidade das irmãs da Liga dos Servos de Jesus, já radicada na Missão da Kilenda, prevista para o próximo sábado, dia 28 do corrente mês de abril.
Irmãs e irmãos, e agora convido-vos a colocarmo-nos todos no meio da multidão que escutava o discurso de Pedro, segundo a primeira leitura tirada dos Atos dos Apóstolos. Também a nós hoje ele nos lembra que Deus ressuscitou Jesus, aquele que a maldade dos homens condenou à morte, apesar de Pilatos ter publicamente reconhecido a sua inocência. E também a nós Pedro nos dirige o apelo ao arrependimento e à conversão para sermos verdadeiramente, na continuação do ministério dos Apóstolos, testemunhas do Ressuscitado. Sentimos as muitas resistências que existem em nós e no nosso mundo ao anúncio de Cristo Ressuscitado e a vivermos, por inteiro, a novidade da sua Ressurreição. A isso chama-se pecado. Mas também sabemos que, apesar das nossas limitações e fraquezas, temos junto do Pai um verdadeiro advogado, Jesus Cristo, como diz o Apóstolo S. João, na sua primeira carta. Ele veio ao mundo para apagar os pecados da humanidade e, com a sua morte na cruz, cumpriu, por inteiro, esta missão. Por isso, o mesmo S. João lhe aplica a linguagem da tradição judaica, dizendo que ele é a verdadeira vítima de expiação pelos nossos pecados. Também nós nos sentimos companheiros dos discípulos de Emaús, a que o Evangelho de hoje se refere. Partilhamos as suas dúvidas e incertezas, carregamos com a sua desilusão, porque Jesus foi condenado à morte. É certo que algumas mulheres foram ao sepulcro e não encontraram lá o corpo, mas a ele não o viram. Também nós queremos, como os discípulos de Emaús, deixar abrir o nosso coração e a nossa inteligência à novidade de Cristo Ressuscitado. Como aconteceu aos apóstolos, queremos deixar que a surpresa do encontro com Ele transforme toda a nossa vida e faça de nós verdadeiros missionários. E como aconteceu àqueles dois caminhantes para Emaús, também para nós a celebração da Eucaristia, em cada Domingo, é o lugar decisivo para abrirmos o coração a Jesus vivo e decidirmos cumprir o seu mandato missionário. Como os Apóstolos, escutamos, de novo, o mandato missionário de Jesus para sermos testemunhas da sua Ressurreição, num tempo novo. Por isso se justifica o apelo que a Igreja nos faz para a aventura da nova evangelização. E, como as palavras o dizem, falar de nova evangelização supõe que houve uma primeira evangelização, que nos trouxe a notícia de Jesus Cristo e do seu Evangelho. É por isso que, no pouco tempo de presença neste esperançoso território angolano, eu já encontrei muitos sinais do anúncio de Jesus Cristo que aqui se faz há 5 séculos.
A expressão “Nova Evangelização” deve-se em grande medida ao Papa e agora Beato João Paulo II, que a usou, pela primeira vez, ao visitar territórios da América Latina para comemorar os 5 séculos da sua primeira evangelização. Ele próprio disse o que se deve entender por nova evangelização. Esta não desfaz a importância decisiva da primeira evangelização, nem muito menos pretende anunciar um evangelho diferente do primeiro evangelho saído da boca de Jesus e anunciado ao Mundo pelos apóstolos. Pretende sim anunciar este único e mesmo evangelho, mas agora com novo ardor, com nova linguagem e com novos métodos.
A Igreja Universal prepara agora um novo Sínodo precisamente sobre este assunto da “Nova Evangelização para a transmissão da Fé”. Ora, acontece que a transmissão da Fé não pode ser entendida como simples passagem de uma doutrina ou mesmo de uma moral às pessoas em geral e sobretudo às gerações mais novas. Por ele deve entender-se, sim, como diz o actual Papa Bento XVI, “o encontro com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e um rumo decisivo”. É promover este encontro com Cristo Vivo que devem pretender tanto a Igreja em geral como cada uma das nossas comunidades. Se não tivermos sempre bem definida esta meta em tudo o que fazemos nas nossas comunidades da Fé, andaremos por caminhos errados e a perder tempo.
Permiti-me agora que, a terminar, eu possa convosco dar graças a Deus por alguns indicadores d vitalidade da Fé das comunidades cristãs em Angola e particularmente nesta para mim já querida Diocese de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Sumbe.
O primeiro é a centralidade da Eucaristia, que as comunidades vivem com entusiasmo, ao domingo, em cada um dos seus centros pastorais. A chegada do Sacerdote é uma autêntica festa vivida como sendo a chegada do Senhor Jesus.
O segundo é a centralidade da figura do catequista, tanto na paróquia ou na missão, como na zona pastoral e também na comunidade local. Uma referência especial merece o catequista visitador. De facto, a prioridade da catequese e dos catequistas é lição que as velhas cristandades europeias têm de saber aprender convosco, porque esses são, de verdade, os autênticos caminhos da nova evangelização, isto é promover o amor à Palavra de Deus, o seu acolhimento e partilha e, a partir daí, dar sentido novo à organização da vida pessoal, comunitária e da sociedade em geral.
O terceiro é o crescente entusiasmo, que aqui se encontra, pelas vocações sacerdotais e outras de especial consagração. Dou abundantes graças ao Senhor pelos 8 sacerdotes ordenados nesta Diocese, no ano passado e peço-lhe para que as comunidades cristãs da velha Europa possam retomar o entusiasmo por este valor fundamental na vida da Igreja.
Termino mesmo, lembrando que a nova evangelização nos pede, antes de mais, que sejamos santos. E ser santos é cumprirmos a nossa identidade baptismal de configurados com Cristo na morte e na Ressurreição, procurando responder ao apelo do Evangelho para sermos perfeitos como é perfeito o nosso Pai do Céu.
Por isso, o Papa Paulo VI dizia, numa sua carta que fez e continua a fazer história: “ o homem contemporâneo escuta com mais atenção as testemunhas do que os mestres e se ele escuta os mestres é porque são testemunhas” (E.N., 11).
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda
1 comentário:
Gostei muito! É um tema atual, em ambiente de Páscoa e maneira de falar apropriada à assembleia participante, destacando muitas atitudes positivas do povo de Deus, naquela diocese.
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