«É preciso que
Jesus reine» (1 Cor 15, 25).
Como hão-de invocar Aquele em Quem
não acreditaram? E como hão-de acreditar n’Aquele de Quem não ouviram falar? E
como hão-de ouvir falar, sem alguém que O anuncie? E como hão-de anunciar se
não foram enviados? Por isso está escrito: Bem aventurados são os pés dos que
anunciam as boas novas. (…) A fé surge da pregação, e a pregação surge pela
palavra de Cristo (Rom 10, 14-15.17).
Estas palavras da Carta
de S. Paulo aos Romanos falam-nos da falta de fé do povo de Israel e da
urgência de implementarmos, em todas as comunidades cristãs, uma pastoral da fé
que leve os discípulos de Jesus a dar as razões pelas quais acreditam e a
viverem de um modo coerente com o Evangelho.
O Ano da Fé convocado
pelo Papa Bento XVI, para celebrar os cinquenta anos do início do Concílio
Vaticano II, o grande catecismo dos tempos modernos (CT 2), tem de nos ajudar a
ver a fé cristã fundamentalmente como aceitação da pessoa de Cristo, que traz a
salvação a todos os homens.
A
fé, a esperança e a caridade caminham juntas. A esperança manifesta-se
praticamente nas virtudes da paciência, que não esmorece no bem nem sequer
diante de um aparente insucesso, e da humildade, que aceita o mistério de Deus
e confia n'Ele mesmo na escuridão. A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu
Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa desta grande verdade:
Deus é amor! Deste modo, ela transforma a nossa impaciência e as nossas dúvidas
em esperança segura de que Deus tem o mundo nas suas mãos e que, não obstante
todas as trevas, Ele é o princípio e o fim, o alfa e o ómega da humanidade. A
fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de
Jesus na cruz, suscita, por sua vez, o amor. Aquele amor divino é a luz que
ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir.
O amor é possível, e nós somos capazes de o praticar, porque somos criados à
imagem de Deus. Somos capazes de viver o amor e, deste modo, fazer entrar a luz
de Deus no mundo. Isto é o que chamamos evangelização
Evangelizar
«constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais
profunda identidade.» (EN 14). A “nova evangelização” indica o esforço de
renovação que a Igreja é chamada a fazer para estar à altura dos desafios que o
contexto social e cultural de hoje coloca à fé cristã, ao seu anúncio e ao seu
testemunho, como consequência das profundas mudanças em curso.
A
Igreja responde a estes desafios, não cruzando os braços, não fechando-se em si
mesma, mas através do lançamento de uma operação de revitalização do seu
próprio corpo, tendo colocado no centro a figura de Jesus Cristo. Na realidade,
o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece
verdadeiramente. «N’Ele, a natureza humana foi assumida, e não destruída, por
isso mesmo também em nós foi ela elevada a sublime dignidade. Porque, pela sua
encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se, de certo modo, a cada homem» (GS
22).
Neste
momento, quero expressar sentimentos de fidelidade ao Papa Bento XVI e agradecer
a presença de tantos amigos que me acompanham nesta hora tão importante para
mim: O Senhor Cardeal José Saraiva Martins que presidiu à ordenação episcopal e
que manifesta, mais uma vez, a amizade e dedicação que tem para com a diocese
da Guarda e as suas comunidades; O Senhor Núncio Apostólico, enquanto sinal
visível da comunhão com o Sucessor de Pedro; o nosso bispo D. Manuel Felício
que preside a esta Igreja particular da Guarda, sem esquecer o bispo que me
ordenou, o Senhor D. António dos Santos. Ao Senhor Arcebispo de Braga, D. Jorge
Ortiga, e ao seu bispo auxiliar, D. Manuel Linda, desejo manifestar toda a
minha amizade e colaboração, tentando viver a exortação de S. Martinho de Dume:
«Sê desejoso de sabedoria, e dócil.
Sem presunção, ensina o que sabes a quem to pedir; e sem disfarçar a
ignorância, pede que te ensinem o que não sabes» (Fórmula de vida honesta»). Bem hajais Senhores bispos pela vossa
presença.
A
todos os sacerdotes e diáconos (deixai que refira explicitamente o presbitério
da Guarda, onde nasci, especialmente os padres com quem partilhei trabalhos
pastorais, e o de Braga, onde vou trabalhar), religiosos e religiosas,
seminaristas e leigos empenhados na obra da evangelização, agradeço com as
palavras de S. Paulo: «Sede afectuosos uns para com os outros, no amor
fraterno; adiantai-vos uns aos outros, na estima recíproca. Não sejais
preguiçosos, na vossa dedicação; deixai-vos inflamar pelo Espírito,
entregai-vos ao serviço do Senhor» (Rom 12, 10-11).
Não
posso deixar de referir aqueles que me são mais próximos: os meus pais, que nos
transmitiram a fé a mim e à minha irmã, aos meus sobrinhos, cunhado e demais
familiares aqui presentes, aos meus conterrâneos e amigos vindos de várias
partes do nosso país. Aos antigos e actuais paroquianos repito o que, várias
vezes, me ouviram dizer: peço a Deus a graça de dilatar o meu coração, para vós
continuardes presentes e outros possam contar também com a minha amizade e
dedicação. Bem hajais vós todos que, nestes últimos tempos e de várias maneiras,
manifestastes a vossa amizade.
A
última ordenação episcopal, realizada nesta Sé Catedral, da Guarda, foi a do
Servo de Deus, D. João de Oliveira Matos, em 25 de Julho de 1923, sendo bispo
consagrante D. José Alves Matoso, acompanhado pelo Arcebispo de Braga, D.
Manuel Vieira de Matos, de quem tinha sido secretário particular, em Braga,
durante cinco anos, e D. José do Patrocínio Dias, bispo de Beja e antigo pároco
na nossa cidade. No ano em que celebramos os cinquenta anos da sua morte,
(29/8/2012), as suas palavras continuam hoje a ser um apelo a uma renovação
pessoal e comunitária dos pastores e dos leigos, dos membros da Liga dos Servos
de Jesus, da qual foi o fundador, numa palavra, de todos os discípulos de
Jesus:
«Aquele que ama a Cristo tem de amar
o próximo. Se não amar o próximo, não ama a Cristo. Se não reformarmos a nossa
vida, se não formos de Cristo inteiramente, pela Fé, pela obediência e pelo
amor, nós não chegamos a realizar o ideal de Cristo… É preciso que Jesus
reine».
«É
preciso que Jesus volte a reinar em Portugal, na nossa Diocese, na nossa terra,
na nossa família, e, primeiro que tudo, no nosso coração».
Guarda, 12 de Agosto de 2012.
+ António Manuel Moiteiro Ramos
Bispo Auxiliar de Braga, Titular de Cabarsussi.
1 comentário:
Foi uma cerimónia cheia de significado, mas o facto é que ficou a nossa diocese com um presbítero a menos e a de Braga com mais um bispo e não é lá muito justo!
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