ORDENAÇÃO EPISCOPAL
DE DOM ANTÓNIO MANUEL MOITEIRO RAMOS
Bispo Titular de Cabarsussi, Auxiliar de Braga
Irmãos e irmãs em Cristo,
Saúdo,
muito cordialmente, todos os presentes e exprimo a minha mais íntima e profunda
alegria por me encontrar
hoje aqui convosco, para que, pela imposição das
minhas mãos e dos Ex.mos
Bispos concelebrantes,
o nosso irmão António Manuel, do clero diocesano da
Guarda, seja consagrado no episcopado.
1.– A
ordenação episcopal é um rito bimilenário, usado, na sua essência, pelos Apóstolos, para transmitirem o seu carisma aos seus sucessores. Por isso, vemos S. Paulo escrever, de Roma,
ao seu discípulo Timóteo, que tinha ficado em Éfeso para continuar o seu
trabalho apostólico: “Recomendo-te que reacendas o dom de Deus, que se encontra em ti, pela
imposição das minhas mãos”.
Pela consagração episcopal, na qual
é conferida a “plenitude do sacramento da Ordem”, o novo bispo começa a fazer
parte constitutiva do Colégio ou Corpo dos Pastores, que são os continuadores
dos Apóstolos, aos quais Cristo confiou a sua Igreja. Pertencer a tal Corpo
pastoral é, sem dúvida, um grande dom do Espírito do Senhor, mas é também uma
grande responsabilidade eclesial para aquele que é chamado a desenvolver
tal missão apostólica. Por isso, enquanto nos alegramos pela confiança que o
Santo Padre colocou no nosso irmão, chamado à dignidade episcopal, acompanhamo-lo com a nossa
oração, para que o seu novo ministério seja
verdadeiramente fecundo, para o bem de toda a Igreja, da Igreja portuguesa, e, em particular, da Igreja de
Braga.
Constituído como Pastor e Pai, o
bispo é, igualmente, aquele que governa, guia
espiritualmente, discerne e valoriza os carismas de um povo
profético, sacerdotal e real. E fá-lo convergir
para o único e verdadeiro desafio, que é o de edificar o Corpo do Senhor Ressuscitado, que é a Igreja.
Esta, com efeito, não é senão o mesmo Cristo que, depois da sua ascensão aos Céus, continua,
incarnado numa Comunidade de fé, de esperança e de amor, a sua missão salvífica
entre os homens.
2.–
Compete, de um modo
particular, ao bispo, a
missão de fazer da
Igreja de Cristo um terreno cada vez mais idóneo, para o florescimento dos diversos carismas e ministérios,
fundindo-os e harmonizando-os entre si, como “múltiplas vozes de um coro”, para
usar a bela expressão de S. Inácio de Antioquia.
Como membro do Colégio Episcopal, o bispo é chamado a exercer, com
particular empenho, três funções;
a de ensinar, a de governar e a de santificar, como sublinha o mesmo rito da consagração episcopal. Trata-se de três ministérios fundamentais
e, por isso, indispensáveis, segundo a tradição viva da Igreja, para que
a obra salvífica de Cristo continue e cresça até ao fim dos tempos.
Entre eles, porém, deve colocar-se em evidência o terceiro, isto é,
o de santificar. Sublinha-o o Beato João Paulo II, quando na Carta Apostólica “Tertio Millenio Adveniente”, recorda aos Pastores que “é necessário…suscitar em
cada fiel um verdadeiro anseio de santidade, um
forte desejo de
conversão e de renovamento pessoal”. E na carta “Novo
Milllenio Ineunte”,
apresentada sete
anos depois, em 2001, não hesita em afirmar que “o
horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade”, e que “indicar a santidade aos fiéis é, portanto, mais do que
nunca, uma urgência pastoral”.
Neste
contexto, apraz-me ainda lembrar um outro aspeto sublinhado pelo mesmo Sumo
Pontífice, quando, dirigindo-se a um grupo de bispos recém ordenados, lhes diz:
“Vós tendes a consciência de que o ministério da
santificação requer o testemunho de uma vida santa.
O Espírito de Deus, que
vos santificou, através
da consagração episcopal, aguarda a vossa generosa resposta quotidiana. A
vossa santidade não é um facto apenas pessoal, ela beneficia sempre os fiéis,
conferindo-vos aquela autoridade moral que dá eficácia ao exercício do vosso
ministério”.
Um
dos gestos que, como bispos, somos chamados a repetir continuamente, é a
imposição da mitra. Pois bem, cada vez que o fazemos, somos chamados a sentir e
a viver, como nesta hora da tua ordenação episcopal, o apelo que nos foi feito
nesse momento: “Recebe a mitra, e brilhe em ti o
esplendor da santidade”. Sem dúvida que, como programa, não é pouco.
3.- As funções do bispo, que
referimos anteriormente, devem ser concebidas e exercidas, sobretudo, com um
profundo espírito de serviço. Este é o verdadeiro significado da própria palavra
“episcopado”. Ela indica não uma honra, mas um serviço, segundo as palavras de
Cristo: “Aquele que é o maior entre vós seja o mais pequeno de todos; e aquele que governa, faça-o como
aquele que serve”(Mt 20,26). Efectivamente, o bispo
é, em primeiro lugar, e sobretudo, um servidor de Cristo
e da Igreja, a qual não é mais do que, como disse Santo Agostinho, “o mesmo
Cristo que se ama a si mesmo” e que continua a sua missão, no tempo e na história.
O
ministério episcopal requer, portanto, ser animado e vivificado por um
verdadeiro sentido de comunhão eclesial. De facto, todos os bispos
estão unidos. Como tal,
cada um deve sentir a
solicitude de todas as Igrejas, ajudando com generosidade aquelas que se
encontram em maior necessidade.
Neste
contexto não se pode deixar de lembrar uma outra caraterística
do serviço episcopal: a sua dimensão missionária. A
Igreja, da qual o bispo
é pastor, “é, por sua natureza, missionária,
visto que tem a sua origem,
segundo o desígnio de Deus Pai, na ‘missão’ do Filho e do Espírito Santo”. A ação missionária
é a sua razão de ser, a sua própria identidade e a sua vocação. Ela é a parte
integrante do seu ADN. Uma Igreja que não fosse, ou não se
sentisse missionária, apostólica, evangelizadora,
não seria a verdadeira Igreja de Cristo, isto é aquela que Ele quis, concebeu e
instituiu.
Esta dimensão, essencialmente missionária, da Igreja,
não poderá deixar de se manifestar, de modo particular, no ministério
dos seus pastores. Estes são os sucessores dos Doze, aos quais Cristo deu o
mandato de proclamar a Boa Nova a todos os homens e a todos os povos, de que
nos falam a primeira
leitura (Is 61, 1-3ª) e o Evangelho (Mt 28, 16-20) desta solene concelebração eucarística.
Eis,
caríssimo irmão no episcopado, o grande desafio que está diante de todos os que
foram chamados por Deus ao “múnus episcopal”: ser sinal especial da íntima
unidade esponsal de Cristo com a sua Igreja, sempre lembrada pelo anel episcopal: “Sponsam
Dei, sanctam ecclesiam, intemerata fide ornatos, illibate custodi”
(…”sinal de fidelidade à Igreja, guardando-a como esposa santa de Deus”)
4.- Não
te deixes nunca desencorajar
no desempenho do teu ministério episcopal. Tem
sempre confiança: aquela confiança a que nos exorta São Paulo na segunda
leitura (2Cor 4,1-2.5-7). É verdade que “trazemos
em vasos de barro o tesouro do nosso ministério”,
como diz o Apóstolo. Mas é também verdade que Deus nunca abandona aquele a quem escolheu para um
ministério tão sublime. Daqui a alguns momentos, tu poderás dizer como Isaías:
“O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a
anunciar a Boa Nova”. A
ti o Senhor hoje diz como disse a Jeremias: “Não
digas ‘sou um jovem’. Irás onde Eu te mandar. Não terás medo diante deles, pois eu estou contigo para te
proteger”. A mesma promessa
foi feita por Jesus aos Doze, depois de lhes ter dado o mandato missionário.
Anuncia
sempre o Evangelho com otimismo e coragem. “Devemos
encontrar o entusiasmo do Pentecostes no anúncio” da Boa Nova, como disse o Beato João
Paulo II, falando aos Bispos da Diocese de Roma, no ano 2000.
Peço à Virgem Maria, Mãe da Igreja e
Estrela da evangelização, que acompanhe sempre, com o seu coração maternal, o
novo bispo, o nosso irmão Dom António Manuel Moiteiro Ramos, e torne sempre
fecundo o seu ministério episcopal, que hoje lhe vai ser conferido.
Guarda, 12 de Agosto de 2012
José Card. SARAIVA MARTINS
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