segunda-feira, 9 de março de 2009

DIA UM DE MARÇO!

Durante os anos que passei no Rochoso, a estudar a minha vocação, havia muitas festas. Celebravam-se todas as festas litúrgicas, com alguma solenidade, após preparação prévia na parte de explicação do mistério a comemorar e dos cânticos, que eram primorosamente ensaiados pelo Sr Pe Henriques, que afirmava, com santo orgulho, que a Eucaristia da Casa do Rochoso era das mais solenes da redondeza. Soube, entretanto, que o então capelão da Casa de Trabalho de Jesus Maria e José bebia, na Ordem Beneditina, o que nos transmitia e que nós aceitávamos, como se de um dogma se tratasse. Aprendíamos os salmos e todos os cânticos em latim, o que, actualmente, já caiu em desuso, a não ser nos conventos, onde ainda continuam a cantar-se.
Quando a Festa da Liga "calhava" na Casa do Rochoso, é que era trabalhar! Um ano, e penso que já não era a primeira vez, aprendemos uma missa em latim a oito vozes. E saímo-nos bastante bem!...
Nessas festas, na parte da tarde, havia também a chamada "sessão solene", na qual se apresentava o Relatório de Actividades do ano findo e o Plano de Actividades para o seguinte. Estas "coisas sérias" eram intercaladas com números recreativos/formativos, com canções, ou com a representação, ao vivo, das actividades exercidas pelas Servas Internas, no seu dia a dia. Uma vez, no Rochoso, eu representei uma Irmã a trabalhar numa Creche e declamei assim:
No berço, embalo filhos alheios,
Que, agora, é como se fossem meus;
Dou-lhes o leite, mágoas, receios,
Sinto-os, por eles, são meus, tomei-os,
Mas, se os adopto, quero-os de Deus!
Também no Rochoso, fiz de Semeador, aludindo ao Senhor D. João, enquanto as minhas colegas cantavam, a várias vozes, o seguinte:
Semeia o semeador a sua semente em largo campo
E espera vê-la produzir, como por encanto!
Lança à terra a sua semente
E espera vê-la crescer alegremente...
Semeia o semeador de olhos no futuro,
O fruto do seu labor será o trigo maduro!
O semeador, semeando num gesto largo, lançou
Boa semente, onde nunca germinou!
Voz: Depois de toda a semente à terra ter sido lançada, o semeador foi ver, se, no seu campo, ficou bem acondicionada...
Uma parte dela caiu junto ao caminho,
Quem, ao longo, passava inutilizava seu carinho...
As aves lá do céu em revoadas pelo ar,
Vendo brilhar o louro trigo, vieram-no, logo, arrebatar;
Outra parte caiu em pedregulhos sem amor,
Nunca se desenvolveu, não chegou até à flor...
Uma outra caiu somente em agudos abrolhos
E tudo secou naquele chão de inúmeros escolhos...
O Semeador sentia tristeza no coração,
Pois sabia que, à sua mesa, nunca chegaria este pão!
Porém, a da terra boa deu cento por um,
Como este trigal não há mais nenhum!
Quem semeia deve ter o coração cheio de fé,
Confiando que o fruto mora na alma de quem crê.
Noutra festa, realizada na Cerdeira, cantei, com mais algumas das chamadas "Servinhas", (era este o nosso nome, enquanto, nos preparávamos para servir, nesta ou noutra missão), o nosso dia a dia, naquela casa. Era esta a letra:
Sempre servir é o nosso ideal,
É muito honrosa a nossa missão,
De fazer Jesus amado,
E muito amado, pela multidão.
Crepita dentro do nosso peito,
Um grande amor, sempre fervente,
Porque queremos levar a Cristo
Todo o mundo, toda a gente.
Nós rezamos e sofremos,
Cosemos muita roupinha,
Estudamos as lições
E fazemos a cozinha;
Algumas já tocam órgão,
Também tratam dos porquinhos,
Depois lavam bem as mãos
E fazem uns bordadinhos.
Assim é preciso, para sermos alguém,
Sabermos de tudo, faz-nos muito bem;
Mas não esqueçamos,
Que todo o valor,
Do nosso trabalho
Está no AMOR!
Mas também havia lugar para as outras, não directamente ligadas à vivência religiosa, que não eram consideradas menos importantes.
Uma das festas mais vividas era, sem dúvida, o aniversário do Senhor D. João e da Senhora D. Alfreda. Perdeu em solenidade, após a partida do primeiro para o Pai, mas continuou a festejar-se.
Lá entrava a Eucaristia solenizada, um almoço quase requintado e a representação em palco.
Ainda nos anos do Senhor D. João e da Senhora D. Alfreda, uma vez fiz de Marta, uma cristã vingativa, que tratava mal as pessoas, mas acabei por me identificar com o fariseu do evangelho de S. Mateus e, com a leitura, em palco, dessa passagem, E, por fim, converti-me.
É por isso que o dia 1 de Março tem sempre um significado muito especial, para mim e para todas a que, nessa época, passaram pelo Rochoso.
O já referido Sr Pe Henriques não só nos ensaiava todos os cânticos que iam surgindo de novo, mas também nos proporcionava formação variada, que seria a actual catequese de adultos. Consistia em lições de Bíblia, de catecismos que existiam na altura, etc. Até éramos submetidas a testes escritos e orais. Por vezes, organizava concursos e prémios para quem acertasse nas questões colocadas, para nos incentivar, já que os temas requeriam algum estudo, para serem assimilados.
Como tudo mudou!...

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